sábado, 2 de outubro de 2010

Au revoir, eu espero.



Há pouco mais de quatro meses, estou de volta ao Brasil. Não escrevi antes um fechamento para o blog porque meu 'jet lag' ainda me causava dor. Dor mesmo, daquela que dói das pontas dos pés aos fios dos cabelos. Dor daquela de só quem passou por experiências deste gênero e por despedidas tão definitivas pode sentir.

Costumo pensar que eu gostaria muito de poder dizer ao partir "Au revoir" e não "Adieu", porque a primeira me consolaria com a esperança de poder vê-los em breve, "até nos revermos". Porém, eu sabia que adeus seria a palavra mais indicada, pois mesmo que eu volte um dia à Baerenthal, ainda assim, as chances de eu reencontrar as pessoas por quem eu mais criei afeto são mínimas, afinal cada um segue o seu destino, c'est la vie.

A minha despedida foi muito emocionante. Nunca esperei aquela reação deles... Em cada um que eu abraçava podia ver nitidamente a tristeza de nos separarmos, as lágrimas que nunca imaginei que cairiam dos seus olhos. Jamais esquecerei daquele momento. Em todo o caso, uma certeza ficou: Eu cumpri meu papel com maestria. Fiz a diferença. Marquei a vida deles tanto quanto marcaram a minha.

Ao voltar, recebi o certificado do estágio e, junto com ele, a Mme. Cathy Klein me escreveu uma carta de recomendação. A emoção foi imensa. Ela, que dificilmente elogia alguém, dedicou uma parte do seu tempo para me prestigiar. Nossa, que falta que me faz o seu sorriso.

Ainda hoje mantenho contato com os mais especiais... E, cada vez que isso acontece, sinto que minha alegria de viver se multiplica. Eles me fazem muita falta, muito mais do que supus que fariam.

Hoje em dia estou trabalhando como concierge em um hotel de luxo que, providencialmente, abrirá este mês aqui em Gramado. Sinto-me muitíssimo abençoada pelas oportunidades que recebi da Vida até hoje. Agradeço muito a Deus por estar me acompanhando e por me ajudar a enfrentar todos os desafios e ainda tirar proveito dos mesmos.

Meus planos? Por enquanto o plano é não ter plano por um tempo... seguir batalhando para ser uma pessoa melhor e encontrar um novo sonho para sonhar.

O fato do meu coração pertencer ao mundo nunca mudará, mas descobri que posso ser do mundo, independente do lugar que estiver, porque eu já não sou mais a mesma, e a França será sempre parte integrante do meu ser e agir.

Merci beaucoup!




sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sobre a festa de início de ano


Em muito grande estilo que comemoramos o início de 2010 com todos os colaboradores do Arnsbourg. Fomos convidados para um almoço dançante, por assim dizer, no Royal Palace em Kirwiller (terceiro maior cabaret da França).


Muito bem recepcionados, com adereços de festa, fotos com dançarinas, muito champagne... tivemos uma tarde marvilhosa acompanhada de muita comida boa e muita diversão. Jamais tinha visto meus chefes daquela maneira antes. A Madame Nicole Klein que nunca usa nada além de preto, chegou com um vestido vermelho, muito bacana. Dançamos muito, músicas de todas as épocas, com direito a cover do Elvis e eu sambando no palco com a cantora! hahaha (minha chefe fez um estardalhaço de que eu era brasileira, aí já viu... - o mico!)


Depois de horas de festa ainda assistimos o show dos dançarinos: espetacular! Detalhe que aqui as mulheres ficam completamente nuas na parte de cima, sem pintura, sem nada.


Pra finalizar, comemos a sobremesa já que não tinha dado tempo de comer de tanto que dançamos... nós e um 5 grupos da terceira idade! heheh


Nessas horas que vale a pena todo o esforço que passamos aqui todo o dia. É a forma que eles encontram de mostrar o agradecimento a sua equipe por todo o sufoco que passam o ano inteiro.

Sobre o afeto


Estando por estes lados de cá, já conheci três casais que firmaram o compromisso do noivado aqui no hotel/restaurante. Mas, para minha surpresa, depois de observâ-los "antes e depois" do sonhado pedido de casamento, parecia que nada havia mudado.


Na verdade, resolvi falar sobre isso porque nesta cultura o afeto é demonstrado de maneira muito distinta da nossa... Dificilmente enxergo casais de mãos dadas ou se beijando... mostrando o que sentem publicamente, quero dizer.


Até me espantou quando descobri que certas pessoas namoravam, porque, de fato, não havia sinal nenhum.


Por outro lado, têm demonstrações que me espantam ainda mais... os homens aqui se relacionam de maneira muito peculiar. E não quer dizer que sejam homossexuais, não. Quando se gostam, se dão dois beijos na bochecha como cumprimento, se abraçam, se encostam muito na verdade.


No Brasil qualquer coisa perto disso seria tida como algo muuuito bizarro e/ou constrangedor.


Só sei dizer que me considero muito sortuda por ser brasileira, por ser de um país quente em todos os sentidos... e, óbvio, por namorar um brasileiro! :D (e que saudade que tô dele, por sinal).

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sobre os queijos


Eu, reles mortal, que conhecia meia dúzia de variedades de queijos, me sinto um tanto quanto ignorante nessa terra de comedores de roquefort!


Queijo aqui é assunto sério... No ritual "entrada - prato principal - queijo e/ou sobremesa", a qualidade e proviniência desse alimento é fundamental, bem como a diversidade.


Acostumada com nosso sanduíche de presunto e queijo lanche, fiquei surpresa ao perceber que aqui os dois juntos não é assim fácil de encontrar... ou é sanduíche de presunto, ou é de queijo, ou, no máximo, de presunto com emmenthal (aquele famoso cheio de buraquinhos).


Têm muitos que eu me arrependi de ter provado, com aquele gosto de podre mesmo... mas, enfim, aqui isso que dá o charme.


Dos cremosos, frescos, até os que mais temos contanto aí no Brasil, tem queijo para tudo que é gosto - com denominação de origem controlada e tudo! O meu preferido, particularmente, é o Comté, um queijo que surgiu da necessidade de se produzir aqui na França alimentos no verão para serem consumidos no inverno... Daí a idéia de se fazer um queijo grande (chegando a pesar de 40 a 80kg), já que os pequenos não duravam muito tempo.




sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sobre as comidas


Chega a ser engraçado admitir isso, mas, acreditem, eu já paguei algum mico aqui por causa das comidas que eu nunca tinha visto antes e, também, já fiquei alguma noite sem jantar por isso.

Imaginem a cena: A Liane chegando para jantar com o pessoal da sala do restaurante, como toda a noite. Ela observa as opções... Enxerga umas salsichas temperadas e um prato que parece uma pizza recheada com algo que parece muito com bacon, mas bem mais fininho. O que ela faz? Ela nunca foi fã de embutidos... Logo, escolhe a pizza que é o que mais lhe parece familiar. Ao chegar na mesa, o que ela descobre? Que aquilo nada mais era que a sobremesa! ehehe Uma torta de ruibarbo (vide foto).

No hotel estamos oferecendo esse mês geléia de ruibarbo com baunilha. Para vocês terem uma idéia, tem gosto de anestesia de dentista - pelo menos pra mim!

Mas a melhor mesmo foi quando eu comi uma sopa achando que era molho hahah todo mundo colocou em copinhos, e a tonta aqui colocou no prato e comeu como acompamento! Imaginem o mico... Mas como todos os dias eles servem os mais estranhos tipos de molho pra nós, tive certeza de que era mais uma dessas combinações malucas. Pelo menos eu tenho desconto por ser estrangeira.

A comida número 1, algo que meus olhos jamais viram e meu cérebro jamais imaginou foi: Um prato ao forno que se consistia de: por baixo, espinafre picado refogado, no meio ovo inteiro cozido e por cima uma camada de queijo... sério, talvez falando até não pareça tão ruim. Mas, é indigesto, acreditem! Dizem que é uma especialidade servida na Páscoa, mas eu duvido!

Claro que já provei coisas deliciosas, mas geralmente a comida dos funcionários é algo!

O que me deixa mais encucada é que são os próprios cozinheiros, os quais também vão comer aquilo, que preparam esses "manjares dos deuses"! Dois dias por semana comemos peixe das partes que não são boas o suficientes pros clientes, geralmente salmão, mas é sempre preparado do mesmo jeito: cenoura e algum outro vegetal por baixo, e os pedaços de peixe por cima, ao forno. Nos outros dias varia um pouco, mas já nos foi servido até rognon que é o rim do boi... algo "degolas" como dizemos aqui (nojento).

Ah, e já ia esquecendo de comentar... aqui, como já tinha ouvido falar, a dieta é cheia de carboidratos, mas pouco ou nenhum legume/fruta. Para o café da manhã eles compram toda a semana um abacaxi, umas maçãs e alguns pomelos. Perto da diversidade e quantidade que temos no Brasil, é decepcionante. E nas refeições do personnel dificilmente acrescentam salada.

Não vejo a hora de voltar pro "nosso" feijão e arroz! :D




segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sobre o frio



Sim, aqui faz muuito frio! Algo desumano mesmo. Quando fomos passar o dia em Colmar para ver as feirinhas de natal eu pensei que fosse chorar de tanto frio que estava sentindo. Temperaturas imensamente negativas são super comuns: Chegamos a -20º aqui um dia. Dizem que nunca nevou tanto na cidade, mas, para meu desapontamento, ainda não fiz um boneco de neve! Hei de fazer qualquer hora.
Infelizmente, não é só esse frio que me abala por aqui...
Existe uma frieza glacial entre as pessoas, em muitos momentos. Não vou exagerar, não é todo mundo que é assim, não. Alguns transmitem uma alegria contagiante, embora que sempre diferente da nossa, com aquele calor que conhecemos no Brasil.
Ou, talvez, seja só minha impressão... Porque, querendo ou não, a diferença marcante das línguas acaba gerando uma certa lacuna nas relações. Embora que gestos, olhares e sorrisos falem muito mais que as palavras, em qualquer idioma. Sinto falta de acolhimento, alguém com quem contar de verdade, sem interesses. Encontrei isso aqui nos dois brasileiros com quem partilhei 2 meses de experiências... Mas, enfim, o estágio deles terminou. Em fevereiro chegará uma nova brasileira, pra minha alegria! Tenho usado muito o skype e o MSN desde que cheguei, o que diminuiu bastante a solidão. Sinto falta do namorado, da família, dos velhos amigos, pessoas que eu sei que estarão sempre dispostas a enfrentar qualquer coisa comigo. Por mais que eu tenha conhecido gente de um coração enorme aqui, ainda assim, não posso afirmar com certeza que posso contar com eles. Pode ser uma questão de tempo, imagino. De qualquer forma, viver isso na pele é muito bom para nos fazer crescer e nos levar a refletir mais sobre o que, de fato, importa na vida.


Amigos, muita saudade! Amo vocês!


sábado, 9 de janeiro de 2010

Sobre a felicidade



Sou adepta da filosofia de vida que aponta que quando pensamos que a felicidade é ponto de chegada, nos enganamos. Na verdade, a felicidade é o caminho. Que mania essa de acreditar que um dia vamos encontrá-la e pronto, ela nunca mais nos deixará. Ilusão. Talvez o melhor mesmo seja torná-la um estilo de vida, tê-la como fiel companheira de jornada... Talvez devêssemos ser mais íntimos dela. Por que não?
Escolhi esse tema já que seguidamente me questiono o que é felicidade para os franceses em geral. Penso no exemplo da minha chefe. Como presente de casamento, ela ganhou um hotel que é praticamente um filho, visto que levou 9 meses para ser construído. Admiro a coragem dela de casar-se com o chef de cuisine de um renomado 3 macarons* (essa é a classificação dos restaurantes segundo o Guia Michelin, sendo que 3 é o máximo de excelência). (Ele) uma pessoa difícil de lidar, que vive sob pressão contínua da busca pela perfeição em todos os aspectos, frio, aquele esterótipo de pessoa cujo humor diário é uma loteria! Pois é, ela teve coragem... e, mais do que isso, conseguiu de alguma forma reavivá-lo, trazê-lo à vida.
Hoje, depois de dez anos (o hotel tem 3), ela vive um casamento visivelmente infeliz, mora em cima do hotel num apartamento que ela não considera sua casa, tem muito, mas muito dinheiro na conta, um carro lindo, uma filha do primeiro casamento e uma neta.
Tantas vezes ficamos pensando 'ah, se eu fosse rico...' Mas, aquela velha pergunta, qual a verdadeira riqueza? Perguntei uma vez pra uma das camareiras se ela considerava nossa chefe feliz. Ela disse veemente que não. Segundo ela, "a chefe tem muito, mas muito dinheiro... Mas eu sou mais feliz que ela". Então?
A moral da vida não é ser feliz? Que tal deixar de lado esses apegos e ir morar na praia? Num casebre em frente ao mar... tendo a certeza de que cada nascer do sol traz consigo mais um dia de pura felicidade.
Tudo bem, tirando o romantismo de lado, por que nos é assim tão duro de aceitar ser feliz todo santo dia, apesar dos pesares? Quero dizer, independente da nacionalidade.

* Macarons são doces, de origem bem antiga, à base de claras de ovos batidas com açúcar e farinha de amêndoas, recheados com creme à base de manteiga, geléia ou ganache. Nos mais diversos sabores: baunilha, pistache, framboesa, rosas, maracujá, chocolate... Eu provei um super refinado da Loja Pierre Hermé de trufa (o tipo de cogumelo). Dizem que era produzido no séc. XVII pelas freiras carmelitas e ofertado às noviças que não comiam carne.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sobre as pessoas



Óbvio que existe um choque sempre que nos deparamos com uma cultura diferente. Não precisamos ir para outro país para provarmos deste sentimento, basta um pulinho na cidade mais próxima para encontrarmos desde as mais tênues até as mais significativas diferenças no modo de ser e agir dos indivíduos.
Basta começarmos do princípio de que as pessoas em si já têm seu próprio infinito particular, o qual nos aproxima e ao mesmo tempo nos distancia uns dos outros.
O fato é que o relacionamento interpessoal nem sempre é fácil, até mesmo com nossos amigos e familiares que conhecemos e nos conhecem há muito tempo.
Chegar em um ambiente totalmente estranho, em que as pessoas aprenderam a se relacionar de uma maneira bastante distinta da nossa, em que a língua que elas falam é considerada um tesouro, questão de patriotismo mesmo, definitavemente, não é simples.
Não digo que é difícil, só não é simples.
No Brasil, muita gente confia, desconfiando. Ou então, confia até provar o contrário. Aqui, não. Os franceses desconfiam. E como desconfiam. Mas, a partir do momento que confiarem, você terá muito mais credibilidade quando cometer erros do que teria com os brasileiros.
Até mesmo nas relações de trabalho. No Brasil, se um funcionário insistir em cometer o mesmo erro, ele é demitido - e por justa causa na maioria das vezes. Aqui não. Aqui eles massacram, apontam o erro na tua cara, mas não te abandonam.
E é por isso que um amigo costuma dizer que para dar certo um estágio/emprego aqui é preciso deixar o orgulho e o ego no aeroporto. Minha amiga acrescenta que a gente deixa isso e um pouco mais... Porque, de verdade, eles não têm pena de ninguém. O trabalho está aí, precisa ser feito, mas feito com perfeição.
Considero bizarras certas situações, pois fica difícil não compará-las com o que aconteceria no nosso país. Por exemplo, imagina uma estrangeira estagiando no Brasil: Certamente todos (e não estou exagerando) iriam tentar inserí-la da melhor maneira possível ao país, às pessoas, ao emprego, tudo. Aqui, não. Aqui a pessoa tem que merecer isso de alguma forma, tem que provar que vale a pena o esforço.
O próprio fato de eles não te darem a chance de mostrar que você consegue falar a língua deles, já considero uma tremenda indiferença, para não falar preconceito. Aos poucos, fui colocando a cara nas conversas, para mostrar que eu sei o que eles estão falando, que eu não sou 'con' como eles costumam dizer (idiota).
Então, com o tempo fui ganhando a consideração de alguns. Mas, acreditem, não podemos esperar muito. Porque, um dia eles são teus melhores amigos e confidentes (geralmente quando tem álcool na história), no outro eles dizem um 'bon jour' forçado e nem lembram mais direito quem você é.
Por outro lado, não posso deixar de comentar os momentos em que eles me surpreenderam positivamente. Por exemplo, no Natal teve um estagiário do restaurante que comprou presentes para todos que iam jantar junto conosco no dia 24. Eu ganhei um livro de receitas de biscoitos alsacianos, adorei, porque estava mesmo querendo saber qual era a receita do biscoito que eu havia provado uns dias antes. Esse mesmo estagiário distribuiu cartões postais da cidade dele para todos, para que tivéssemos uma ideia de onde ele vem. Tudo bem que o nome é engraçado (Chateau Gay hahah), mas, enfim, a intenção foi boa, até porque ninguém teve iniciativa parecida.
No Natal, também, eu escrevi cartas para todo mundo lá do hotel, mas sem esperar nada em troca. Escrevi para demonstrar minha gratidão, especialmente com as camareiras e o Salim, que é o chefe de recepção, os quais tiveram muita paciência com minhas limitações, tanto de língua, quanto de costumes. Qual não foi minha surpresa? No dia 25 chego para trabalhar e eles haviam feito uma vaquinha para comprar um cartão e um presentinho pra mim. Fiquei super emocionada, porque, de fato, não esperava nada (especialmente depois do incidente de eu ter sido a única a não receber presente de natal da chefe). Ganhei uma pulseira e um ouriço da sorte heheh (vai entender, mas ele é bonitinho!).
Às vezes me sinto verdadeiramente confusa em relação a eles, porque fica difícil de saber o que esperar. Mas, vamos deixar claro que não estou escrevendo isso tudo para condenar a maneira deles de viver, bem pelo contrário (já que assim eu estaria cometendo a mesma falta: o preconceito). Escrevo para mostrar a diversidade do ser humano. Acho incrível o modo com que as culturas foram se desenvolvendo e aprendendo a viver e a se relacionar, seja pela guerra ou pela paz. Não sou nenhum filósofo ou historiador, não entendo nada do assunto, escrevo como uma leiga, e como tal, com uma visão superficial, ingênua, mas sincera do assunto.
Aí voltamos ao princípio, que lidar pessoas nem sempre é fácil, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Como dizia meu professor de Comportamento do Consumidor, em relação às pessoas, só vemos o pico do iceberg, aqui dentro de cada um de nós existe muita coisa que nem mesmo a gente conhece às vezes, o que ele definiu como influências intrapessoais (variáveis pessoais e subjetivas do indivíduo) e influências interpessoais (contexto sociocultural).
É, acho que agora fui longe demais... ;)


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sobre as festas de final de ano


Bem sinceramente, eu estava com muito medo de passar o Natal e o Ano Novo chorando de saudade! Mas, para minha surpresa, o pessoal daqui se mostrou muito bacana, tornando ambas as ocasiões muito divertidas e surpreendentes.

Fiquei decepcionada com minha chefe, porque eu fui meio que esquecida no Natal. Todos - absolutamente todos - ganharam presentes de Natal, inclusive os estagiários do restaurante como eu no hotel, menos a Lih! Óbvio que não vim para cá em troca de presentes, bem como eu sei que o significado do Natal é muito maior que isso, mas o que doeu mesmo em mim não foi não ter ganho o bendito presente, foi na verdade a tremenda indiferença que recebi da parte deles. O sentimento de exclusão não é nada agradável para ninguém. Mas, enfim, só para vocês saberem como estava me sentindo na ocasião.

Para o Natal, o subchefe do restaurante agilizou as coisas para prepararmos, nós mesmos, o jantar. Então, dia 24 me reuni com mais outras 6 pessoas que não puderam voltar para casa (um japonês, dois franceses, um holandês, um mexicano e um brasileiro), para dar início aos preparativos!

Foi muito bacana porque a maioria era estagiário da cozinha, então a ceia foi super caprichada.
Como primeiro prato, comemos foie gras com confiture de figo e croustillant de framboesa e iogurte. Em seguida, como segunda entrada, tivemos salmão e aí veio o prato principal que foi um bife wellington e um gratinado de legumes (nesse ponto eu já estava estourando hehe, nem consegui comer a carne, mas o guris deram conta rapidinho). Fechando com chave de ouro, a sobremesa: Buche de Noël (a tradicional Bûche de Noël é uma espécie de rocambole, que pode ser recheado com vários sabores diferentes e tem cobertura de chocolate, para imitar um tronco de madeira). Todos os pratos acompanhados de um vinho/espumante diferente.
O legal da ceia é que pudemos usar uma mesa do salão do restaurante para jantar.. então, tudo ficou com um ar mais especial.

Já o Ano Novo foi diferente... Nós mesmos fomos no mercado e preparamos tudo... Tivemos um cardápio bem alternativo, por assim dizer hehe Pra começar comemos Guacamole com chips (eu que preparei haha), ostras e yakimeshi que o Shun (japa) preparou... Nesse ponto a gt ja tinha comido um monte... mas ainda faltava as tortillas que o Álvaro tinha preparado..
Depois disso, fomos pra casa onde moram 5 estagiários normalmente, que é do outro lado do riozinho que passa aqui atrás do restaurante, para passar a virada de ano... comemos sobremesa (sorvete de baunilha com calda de frutas vermelhas, morango, mirtilo e groselha).

Enfim, agora já estou de férias, contando os dias para a Michelle vir para cá e a gente viajar juntas pela França... contarei detalhes depois.

Bonne Année 2010!



terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Uma repassada no início de tudo...


(texto escrito em out/09)
Oi, amigos...
Agora finalmente pude tirar um tempo pra escrever e contar pra vocês direito como tem sido essa experiência.
Os dias em Paris foram ótimos.. a cidade é linda e tirando um francês ou outro, muita gente foi compreensiva comigo e me ajudou quando tive dificuldade, mesmo sem me conhecer.
Tive um problema no metrô quando estava vindo pro hotel onde estou trabalhando, porque colocaram alguma coisa nos trilhos e atrasou tudo... fiquei super triste porque lá ninguém tava afim de me ajudar e eu trazia duas malas grandes, mais mochila e bolsa... foi dificil, mas entre uma dificuldade e outra a gt sempre cresce.
Por causa dos atrasos, quando cheguei nao tinha ninguém pra me pegar na estação de Niederbronn - que é a mais próxima da minha cidade: baerenthal - então, por sorte, a Madame Nicole Klein que é minha chefe tava passando lá bem na hr e pensou que fosse a nova estagiária por causa das malas. Ela estava com a filha e a neta de dois meses passeando... então, acabei indo tomar café com elas, o que foi ótimo né... aqui é tudo bem formal e um pouco distante. Assim tive oportunidade de falar pra ela quem eu sou de fato e tudo mais.
Fiquei bem feliz porque meus chefes elogiaram já duas vezes meu francês... to me virando bem, faz só dois dias qu estou aqui, então até o final do estágio estarei ótima.
Ontem chegou uma francesa que vai dividir quarto comigo... ela trabalha no restaurante - que é um 3 estrelas do Guia Michelin, o maximo que um restaurante pode ter de excelência. Lá tudo tem que ser sempre perfeito, a margem de erro é 0. Em fevereiro começo a trabalhar na sala do restaurante, que se chama L'arnsbourg... O Hôtel K, que é dirigido pela esposa do Chef Klein, fica bem em frente ao restaurante. As pessoas que se hospedam vêm até aqui só pra jantar ou almoçar no 3 estrelas.
Aqui é bem no meio da floresta mesmo, e é lindissimo, porque agora é outono... de manhã enquanto eu arrumo os quartos, dá pra ver o vento batendo nos galhos e asfolhas caindo. Eu amo o outono. hehe
Ontem meu primeiro dia de trabalho foi super dificil... o hotel está cheio, são só 12 quartos, mas são enormes... tenho que subir e descer MUITA escada. Essa semana ainda tem uma camareira comigo que tá me mostrando o serviço.. mas a partir d sabado que vem vou tirar toda a roupa suja e arrumar as camas sozinha. além de colocar tudo pra lavar, secar e depois dobrar as toalhas e saidas de banho. Isso das 11 às13:30h. Eu almoço no hotel mesmo e a comida é super refinada... a madame almoça com a gt, o que eu considero super gentil da parte dela... todos me acolheram super bem lá e são bem compreensivos e simpaticos. As camareiras adoram uma fofoca, isso não muda em lugar nenhum do mundo né. Hoje, por exemplo, eu almocei salmão haha.. é sempre refinado o negócio, porque vem do restaurante mesmo as comidas.
De tarde, eu termino de lavar e dobrar roupa .. depois ajudo nos check-in, dando drink de boas vindas, chá, café, torta e tal... e depis eu faço o serviço de abertura de leitos... coloco chocolatinho, arrumo o que tiver fora de lugar... tiro o lixo. Depois, eu troco as velas (tem vela por tudo lá de noite.. o hotel é lindo), coloco a louça da cozinha da máquina, seco, guardo e posso ir embora.
No final do dia fico morta... hoje to mais tranquila porque só havia 4 quartos vagos... mas ontem eram 12...é bem puxado.
Geralmente domingo chega gente e segunda... terça e quarta o hotel fecha, mas quinta, sexta, sabado é sempre lotado. O trabalho não é difícil, mas em compensação é mega cansativo... meus pés ficam moídos.
Tô me adaptando ainda... não é fácil, mas pelo menos tem uma brasileira e um brasileiro aqui que são super gente boa e que se ofereceram pra me ajudar em tudo que eu precisar.
O problema é conseguir ir no mercado.. porque é longe e temos que ir de carro... é preciso esperar alguem te convidar pra uma carona, ou então pegar um taxi... mas dai é uns 30 euros né... se for pensar, é bastante.
Aqui, como diz meu pai haha, é terra de ninguém... se tu nao for atrás das tuas coisas, ninguém tá nem aí... a sorte é que essa brasileira é bem mãezona e me dá várias dicas...até pra agilizar meus papéis e tudo mais.
Hoje a noite o pessoal que trabalha aqui se reune na casa dos outros estagiarios.. porque têm uns que ficam aqui em cima do restaurante, como eu, e uns outros que moram numa casa, que é bem melhor, porque tem tv, cozinha, td mais... mas é preciso conquistar um lugar aqui... ano que vem vou poder ter um quarto so pra mim porque a brasileira que tá sozinha vai embora. É importante fazer vários amigos, porque senão fica impossível viver aqui.
Bom, acho que por eqto é isso... ah, de tarde meu horário é das 16h as 21h, e a diferença de fuso horário aqui é 3 hrs a mais do que no Brasil.

Let's get it started ;)


Chegando quase à metade da minha estada na França resolvi tomar 'vergonha na cara' e registrar as experiências que tenho tido aqui. Um reforço para minha memória fraca e uma espécie de conforto para aqueles com quem tenho mantido pouco contato desde que parti. Para os outros, sintam-se à vontade ao ler meus desabafos...